A Gazeta
Mais de 2.300 obras públicas, com valor estimado em mais de R$ 3,4 bilhões, estão paralisadas em Mato Grosso. Nos últimos 10 anos esse número avançou em mais de 1.000%, saindo de 161 em 2011, para 2.336 no ano passado. A maioria (36%) está ligada às áreas de infraestrutura e transporte. Outros 22,6% são da educação e 12% da saúde. Os dados são do Radar Obras do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso (TCE-MT), que traz um panorama das construções municipais e estaduais sem andamento nos 141 municípios matogrossenses.
De um total de 2.334 obras que estão paradas no Estado, 95% (2.226) são de responsabilidade dos municípios e os outros 5%, ou seja, 68 obras, são do Governo do Estado. Das 68 obras estaduais, 52,9% são referentes à infraestrutura e transporte, enquanto 33,8% da saúde.
Quando considerado o conjunto total de obras paradas (estaduais e municipais), Cuiabá é a cidade que concentra a maior parte, com 141 obras, seguida de Várzea Grande, com 126.
O sistema traz ainda os 20 municípios que mais possuem paralisações e neste caso Várzea Grande e Cuiabá invertem as posições, com um total de 122 e 86 obras paralisadas, respectivamente. Entre outros municípios que aparecem nesse “Top 20” ainda estão Sinop, Rondonópolis, Paranatinga, Alto Araguaia, Barra do Bugres, Barra do Garças, Pedra Preta e Jaciara.
Entre as obras estaduais paralisadas, estão, por exemplo, os trabalhos de pavimentação e drenagem de 22 ruas do bairro Centro América, em Cuiabá, lançados em 2018 pelo valor de R$ 2,5 milhões, com recursos oriundos do governo do Estado e do Ministério das Cidades, com previsão de entrega em 2019.
Localizado entre os bairros Morada do Ouro e CPA, os moradores do local, que aguardam há mais de 30 anos pelo tão sonhado asfalto na porta de casa, já perderam as esperanças. Convivendo com a poeira, os problemas graves que ela traz para a saúde e ao bolso, lembram que as promessas para a região são antigas e para muitos não passam de “ilusão”.
Entre as ruas que devem ser pavimentadas está a avenida principal, a Acácia Cuiabana, que liga a avenida Historiador Rubens de Mendonça até a avenida Brasil. Nessa via, Daniela Conceição de Oliveira, 38, mora há 25 anos e conta que da primeira vez em que a pavimentação foi prometida, o piche chegou até a frente de sua casa, mas hoje não resta nem mesmo vestígios dele.
A dona de casa diz que sofre muito com a falta da pavimentação, seja na seca ou na chuva, a situação no bairro sempre gera transtornos. Quando chove, por causa do lamaçal e atoleiros, quando não, o problema é a poeira sem fim. Ela lembra que para lavar roupas é preciso esperar os fins de semana, quando o movimento de carros é menor e assim a poeira também. Além disso, a casa não para limpa e a saúde sempre é prejudicada. “Eu e meus dois filhos sempre estamos gripados, com problemas respiratórios por causa da poeira”.
Várzea Grande
Em Várzea Grande, que lidera o ranking de paralisações de obras municipais, 39,3% das obras estão ligadas à infraestrutura e transporte e 38,5% à educação. Entre as pendências aparecem, por exemplo, os trabalhos de pavimentação e drenagem de diversos bairros e ruas como o bairro Itororó e Capão Grande, e também as reformas de Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis) como o Miguelina de Campos e Silva, no bairro Jardim Paula 2, visitado pela reportagem.
Localizado na rua D do bairro, a obra da creche foi iniciada no ano passado e consta ainda como paralisada. No local a reportagem verificou que já há funcionários trabalhando, o que deixou a comunidade local mais animada.
Marciley Margarete Neves, 37, afirma que na última semana o movimento no local recomeçou e que a obra é muito esperada por ela. Morando há poucos metros da unidade e com um filho de 3 anos, ela conta que para o próximo ano espera conseguir uma vaga na unidade. “Estava preocupada, espero que a obra tenha um bom andamento e seja finalizada o quanto antes”.
Ainda em Várzea Grande, no bairro Mapim, a reforma do miniestádio também é uma promessa entre as paralisadas e é esperada por moradores que lembram que as ações são simples e não demandam um grande orçamento. “Ali é mais questão de pintura, de dar uma geral no campo mesmo, mas ainda assim não sai”, afirma o morador Júnior Silva, 32, que é acostumado a bater uma bola no local.
Cuiabá
Já na Capital, que figura como a segunda cidade com mais obras municipais paralisadas, das 86, 56,9% são referentes à infraestrutura e transporte como readequações viárias dos bairros Coophamil, Porto e Bela Vista, pavimentação asfáltica e drenagem em bairros da região do CPA, entre outros.
No bairro Tancredo Neves, moradores se frustaram ao ver o asfalto chegar bem próximo às casas e ainda assim não serem contemplados. É o caso da dona de casa Lucimara Ferreira, 41. Moradora do bairro há anos, na rua 21, ela lembra que há algum tempo as obras de asfaltamento pararam na rua lateral, a Itapuã. “Na época, a promessa era de continuidade, mas até hoje nunca mais”.
De acordo com ela, que sofre com a poeira e a lama, o máximo que acontece quando vê alguma movimentação de maquinários em sua rua é para deixar o local mais transitável. “Pelo menos isso fazem, mas também não é sempre”, diz ela, apontando para a situação da rua.
Na área da saúde, o sistema elenca 7 obras na Capital, a maioria delas sobre a contratação de empresas especializadas em engenharia e construção para unidades básicas de saúde. A mais antiga aparece como sendo do ano de 2012 e diz respeito à contratação de uma empresa para uma Unidade de Pronto Atendimento, que não foi especificada.