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A greve sem nexo dos funcionários da Funai

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(J.R. Guzzo, publicado no jornal Gazeta do Povo em 16 de junho de 2022)

 

Eis aqui um retrato acabado do funcionalismo inútil, parasita e vadio que infecciona áreas tão grandes da administração pública brasileira: a Funai, repartição que você paga para dar assistência aos índios, enquanto a mídia lhe diz que os problemas com os “povos indígenas” ficam cada vez piores, entrou em greve. Em greve? Mas qual o trabalho que os funcionários estavam fazendo e que foi interrompido com essa greve? Em condições normais, a Funai já não faz nada: passa praticamente todo o seu tempo falando mal do governo, lançando abaixo-assinados e mantendo relações cordiais com as ONGs que tiram o seu sustento financeiro da Amazonia. Em greve, faz duas vezes nada.

A greve de agora é realmente um desses fenômenos que só acontecem no serviço público do Brasil: foi decretada em protesto contra o desparecimento numa parte remota da Amazônia, no início de junho, de um ex-funcionário e um jornalista inglês residente na Bahia. Como assim? Duas pessoas desaparecem na vastidão da floresta e os funcionários da Funai fazem greve? O que uma coisa tem a ver com a outra? Mais: neste momento, justamente, o pessoal não deveria estar dobrando o seu trabalho para ajudar nas buscas aos desaparecidos? Não faz nexo; mas a maioria das coisas que dizem respeito à Funai não faz nexo.

Os grevistas, naturalmente, estão protestando contra “o governo” — é a sua colaboração no grande esforço da oposição e redondezas para jogar a culpa pelo incidente nas autoridades federais e, é óbvio, “no Bolsonaro”. Mas também nisso o presidente é culpado? De que jeito ele poderia ser responsável pelo que aconteceu a duas pessoas em viagem particular, e não autorizada pela mesma Funai, à uma das terras indígenas mais isoladas do Amazonas? Também não dá para acusar o governo de desinteresse ou pouco empenho nos trabalhos de investigação e de busca dos dois desaparecidos. Cerca de 250 homens do Exército, da Marinha, da Polícia Federal e das polícias militar e civil do Amazonas estão há dez dias dedicados a essa tarefa — o maior esforço para localizar alguém que já foi feito na região, em tempos recentes, pela autoridade pública. Há dois suspeitos presos. Há material apreendido. O que mais se poderia fazer?

O ex-funcionário e o jornalista, que trabalhava como colaborador em jornais ingleses, não tinham autorização válida para entrar em terra indígena — um pecado mortal para os defensores da “causa” dos índios, sempre atrás de denúncias contra “os brancos” que fazem isso. Mas a culpa, para os funcionários da Funai, a esquerda do Brasil urbano e os militantes da floresta amazônica, é “do Bolsonaro” — como os 600 mil mortos da covid, a inflação mundial, o preço da gasolina, a falta de componentes para a indústria, a “fome” e o resto dos problemas que estão aí. Greve em cima dele, então.

No momento em que os funcionários da Funai anunciavam a sua greve, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, baixava um decreto exigindo que o governo federal tomasse, em cinco minutos, “providências” para resolver a questão. Mas todas as providências possíveis foram tomadas, tanto na área federal como na estadual, desde que apareceram as primeiras notícias sobre o desaparecimento. Que diabo ele quer que se faça? A greve e o ministro são os dois lados da mesma moeda falsa.

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