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O ‘rei da borracha’: a incrível história do homem que inspirou Fitzcarraldo

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Provavelmente, a história de Fitzcarraldo (1982), filme de Werner Herzog, sobre um sonhador megalomaníaco que decidiu subir de barco uma montanha na Amazônia com a ideia de construir uma ópera no meio da selva, sempre será lembrado como um dos mais complicados da história. O próprio Herzog conta isso em seu romance A conquista do inútil, onde garante que a equipe teve que lidar por dois anos no meio da selva com todo tipo de acidentes, problemas e loucuras de Klaus Kinski, o ator principal de o filme.

Mas embora Fitzcarraldo tenha se tornado um filme cult, extremamente famoso, poucas pessoas conhecem o personagem no qual Herzog o baseou: Carlos Fermín Fitzcarrald, também conhecido como “o rei da borracha”, comerciante de borracha e explorador peruano, que também descobriu o istmo que leva seu nome na selva do sul do Peru, que é (segundo muitos historiadores) o achado mais importante do país no século XIX.

Descubridor de um istmo

Quando jovem, Carlos Fermín (batizado como Isaías Fermín, sendo o primogênito de sete irmãos), estudou no Liceo Peruano de Lima, porque seu pai queria que ele se tornasse marinheiro. Ele nasceu em um dia de verão em 1862 em uma pequena cidade no oeste do Peru, seu pai era um marinheiro irlandês. Pai e filho faziam constantemente viagens juntos a Huánuco, a fim de aprender sobre a venda de mercadorias no alto dos rios.

De fato, em uma ocasião, ao retornar de uma dessas viagens, ele foi esfaqueado no estômago por um bandido, saindo vivo do incidente. A morte de seu pai abreviou seu destino e ele foi forçado a emigrar para o leste do Peru em busca de fortuna. Depois de lutar na Guerra do Pacífico, viajou para Loreto com a ideia de se esconder porque havia sido acusado de ser um espião chileno, mudou seu nome para o que todos conhecemos. Ele foi condenado à morte, mas como o destino quis, o padre que iria dar-lhe a extrema-unção o reconheceu de outros tempos, e isso salvou sua vida.

E, como Fitzcarraldo, embora sem ópera, decidiu entrar na selva amazônica e conviver com os nativos, aprendendo assim os segredos da borracha. Este material excepcionalmente forte e impermeável (com ele são feitos pneus, roupas esportivas, bolas e muito mais) originou-se na floresta tropical brasileira (sua árvore é a Hevea brasiliensis), embora não seja mais cultivada comercialmente no país devido à prevalência da praga na América do Sul, um patógeno que minou a indústria de materiais na década de 1930. Mas muito antes disso acontecer, o material estava em pleno andamento e, embora Fitzcarrald tenha entrado na selva pobre e sozinho, ele a deixou milionário, anos depois.

Fitzcarrald foi capaz de ver a importância da borracha em comparação com outros materiais como o látex, e logo se tornou um dos homens mais ricos do Peru, construindo uma mansão em torno da qual uma cidade cresceu mais tarde. O problema de seu negócio, embora prolífico, era que ele precisava de uma rota direta para levar a borracha até os principais portos, para o que era necessário um desfiladeiro que ligasse dois rios para facilitar a circulação. Assim como Fitzcarraldo insistia na ideia impossível de erguer um navio através de uma montanha, seu colega, na realidade, propôs uma façanha muito semelhante e não menos difícil.

Ele mobilizou centenas de nativos para localizar a rampa de lançamento. Seu objetivo era unir esse vasto e rico setor da selva, ameaçado pelas excursões dos seringueiros bolivianos e brasileiros, com a parte norte, já intensamente percorrida por comerciantes e colonos peruanos. Em 1885, após três anos de exploração, descobriu o que hoje é conhecido como Istmo de Fitzcarrald, uma passagem de cerca de onze quilômetros por terra que ligava o rio Cashpajali com o Manu e Madre de Dios, facilitando assim o comércio da borracha. E, como no filme de Herzog, ele arrastou um barco pelos onze quilômetros que separavam as duas bacias.

Ele estava no topo do mundo quando morreu. Em 9 de julho de 1897, ao cruzar de barco uma das corredeiras do rio Urubamba, colidiu com as rochas e morreu imediatamente. Deixou para trás um império que alguns biógrafos questionaram, devido à repercussão negativa que teve entre a população nativa da selva, sacrificando vidas em busca de sua façanha e da busca pela borracha. Herzog ficou encarregado de retratar essa megalomania em sua obra, que tem duas leituras: a de quem nunca desiste diante das dificuldades (como o próprio Herzog durante as filmagens) ou a de quem, para conseguir o que quer, está disposto a imolar tudo em seu caminho.

O império do “rei da borracha” não sobreviveu após sua morte, pois nenhum de seus filhos o continuou. O que havia conquistado em dez anos desapareceu em poucas horas, embora o rastro de seu triunfo tenha permanecido para sempre, a ponto da lenda em torno de sua vida servir não apenas para inspirar um filme, mas também para convertê-lo, com suas luzes e sombras, em algo como um herói na história do Peru.

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